Passa o sonho, passa a glória, passa a fama
o néscio, jovem, rico, pobre, preto-branco
passa a massa, o rio, o povo, a onda.
O poder também passa, de mão em mão, e como passa...
mais rápido que raio - passa a vaia, a laia
passa a vida, a posse passa.
Como o pão, o grão, passa o amor, o afeto, o ódio
passa a revolta, tudo, tudo passa!
Amigos, dores e prazeres, a rebelião, o anão, a razão
anda, muda, passa e corre
passa débito e crédito, banqueiros e barraqueiros,
Nobre, vassalo, leão, cavalo,
passa o susto, o santo, o gozo, até a dor!
A dor é a que mais rápido passa, não deixa rastro.
Vanidade, sabedoria, ciência, arte, a muda paisagem,
passa o trem, gado, campo, peixes e hipocampos
como filme longo e curto, tudo passa.
Permanece a lembrança por uma fração de tempo
da tresloucada ânsia do prazer, da eterna posse
posse que passa rapidíssima, muito mais rápida que a luz,
fugaz fuga, que não marca, não fere e não morde.
Passado, presente e futuro é um só, esta imagem persiste,
o resto passa.
Tudo, tudo passa!